'Armadilha' com fermento de pão é usada para atrair mosquito da dengue

Patente de larvicida foi registrada pela Fiocruz, em parceria com uma universidade mexicana.

Por Redação Oeste Mais

08/04/2025 16h03



O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) assumiu a coparticipação na patente de um larvicida contra o Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya.

Desenvolvida junto a universidades estrangeiras, a tecnologia usa cápsulas de óleo de laranja revestidas com fermento de padeiro para matar larvas do mosquito.

“São dois ingredientes totalmente biodegradáveis: óleo de laranja encapsulado em leveduras, ou seja, o fermento utilizado para fazer pão”, descreve o chefe do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC, Fernando Ariel Genta.

A novidade, além de ser sustentável e não agredir o meio ambiente, não provoca efeito de resistência do Aedes aos tradicionais produtos químicos.

“A primeira vantagem da tecnologia é a questão do direcionamento. Larvas de mosquito adoram comer células de levedura e têm enzimas intestinais especializadas na digestão delas. Além disso, uma das fontes alimentares recomendadas pela literatura científica para a criação de larvas de mosquitos em laboratório é justamente as leveduras”, frisa Genta.

Segundo o pesquisador, ocorre um processo de “delivery ambiental”, em que as cápsulas são introduzidas diretamente nos criadouros e as larvas as consomem como alimento.

“A cápsula não vai acumular na natureza, como acontece com pesticidas químicos. Além disso, nossos testes mostraram que essa inovação tem efeito mínimo no ambiente e em outros insetos e é totalmente segura para humanos”, destaca.

Cápsulas de óleo de laranja revestidas com fermento de padeiro (Foto: Divulgação/Fiocruz)

Parceria

A criação do larvicida começou em 2017, com um projeto internacional para desenvolvimento de um larvicida sustentável, chamado ‘An Environmentally Friendly Larvicide for Mosquito Control’, parceria entre o IOC e a Universidade do Novo México (UNM).

“Eles tinham a ideia e nós tínhamos a expertise para testar”, explica Genta, que conheceu o pesquisador Ravi Durvasula, líder do projeto, quando o convidou para ser docente no IOC de um curso sobre vetores.

A parceria nasceu logo em seguida, com a participação ativa do IOC em testes e na elaboração do projeto. Além de Genta, também participaram o pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Bruno Gomes, e alunos do Programa de Pós-graduação em Vigilância e Controle de Vetores, com estudos no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pará.

A patente foi registrada primeiramente em nome da Universidade do Novo México, em outubro de 2023, sob proteção do United States Patent and Trademark Office (USPTO) e do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT, na sigla em inglês).

“A Universidade do Novo México tem um programa de empreendedorismo e inovação muito avançado e, quando houve interesse por parte de uma empresa, o processo foi agilizado sem a burocracia do lado brasileiro”, lembra Genta.

Em outubro de 2024, com apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica do IOC (NIT-IOC) e da Coordenação de Gestão Tecnológica (GESTEC) da Fiocruz, foi firmado um Acordo de Cotitularidade de Patentes com a UNM. Por fim, em fevereiro de 2025, a Comissão de Patentes da Fiocruz aprovou o depósito da patente no âmbito do PCT. Atualmente, a tecnologia está apta a ser comercializada e contribuir para o controle sustentável do Aedes aegypti.


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